27/07/2018
O eclipse lunar com lua de sangue mais longo do século
Ainda que aspecto mais chamativo do fenômeno seja o espetáculo de sua cor, também é útil para que os cientistas possam conhecer melhor o estado da atmosfera terrestre, de acordo com Miquel Serra, astrônomo do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC).
A Terra se colocará entre o Sol e a Lua na noite de 27 de julho ocasionando o eclipse lunar mais longo do século XXI. A fase total do fenômeno começará às 21h30 (16h30 de Brasília) e terá duração de 102 minutos, já que a lua passará próxima ao centro da sombra terrestre. Durante essa fase, o satélite refletirá uma tonalidade avermelhada que lhe confere popularmente o nome de Lua de Sangue. Ainda que aspecto mais chamativo do fenômeno seja o espetáculo de sua cor, também é útil para que os cientistas possam conhecer melhor o estado da atmosfera terrestre, de acordo com Miquel Serra, astrônomo do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC).

O lógico, quando a Lua entra na sombra da Terra, seria que o satélite fosse invisível de nosso planeta. “Nós a vemos porque a atmosfera terrestre produz dois efeitos sobre a luz solar”, afirma o especialista do IAC. O primeiro é o fenômeno de refração, uma curvatura dos raios do Sol que rodeiam a Terra até chegar à Lua. O segundo é semelhante ao que acontece durante um entardecer. A atmosfera dispersa as cores mais energéticas da luz solar, como o verde e o azul, de maneira que somente os raios vermelhos chegam à superfície lunar. “O resultado é uma Lua iluminada com tons acobreados, e é o mais espetacular”, diz Serra, que o considera “interessante e bonito porque a intensidade do vermelho não é conhecida até o início do fenômeno e depende do estado da atmosfera terrestre”, afirma.

A cor da Lua pode ser relacionada à poluição atmosférica, mas principalmente “pode nos falar do estado geral da atmosfera em um determinado momento”, afirma Miquel Serra. A razão é que, além das partículas poluidoras, outros fatores intervêm como a presença de nuvens e de emissões vulcânicas em certas regiões do planeta. “As partículas vulcânicas fazem com a tonalidade avermelhada aumente”, diz Antonio Pérez, divulgador científico especializado em astronomia e ciências do espaço. Quantas mais existirem em suspensão na noite do dia 27, portanto, mais vermelha veremos a Lua eclipsada, como acrescenta o especialista.


Além disso, um aspecto muito interessante é que um eclipse lunar pode informar sobre o estado do buraco na camada de ozônio, que “parece estar relacionado a uma variação do tamanho da sombra terrestre”, diz Serra. A equipe do IAC a que o astrônomo pertence irá até a Namíbia, onde o fenômeno poderá ser observado do começo ao fim. Lá calcularão a cor da totalidade e anotarão dados do tamanho da sombra lunar, que “varia de eclipse para eclipse a cada dois anos”, diz Miquel Serra.

O motivo principal que os leva à Namíbia é, entretanto, retransmitir em seu site o eclipse com tecnologia de alta qualidade para que o público possa observar o fenômeno de qualquer parte do mundo. A transmissão será feita em colaboração com a Sky.live.com, uma televisão online especializada na transmissão ao vivo de eventos astronômicos, e também poderá ser visto no site do EL PAÍS.

A África, o Oriente Médio e alguns países da Ásia central são os lugares onde o eclipse será totalmente visível. A Austrália só poderá observar o início e a América do Sul, o final. Em relação à Espanha, poderá ser observado o início da fase total, que coincide com a saída da Lua em Madri, às 21h30, até o final do fenômeno, às 23h13. Seu ponto máximo será às 22h22, hora da Espanha. Como o começo da totalidade coincidirá com o surgimento da Lua na Península Ibérica, o satélite estará eclipsado na maioria das cidades espanholas desde o começo. Por essa razão, “a nível fotográfico, será uma paisagem bem inédita, porque poderemos ver a Lua saindo pelo horizonte completamente eclipsada”, afirma Antonio Pérez.

O fenômeno completo durará 3 horas e 55 minutos se for levado em consideração o tempo de penumbra, ou seja, o momento em que a Lua passa pela área mais clara da sombra terrestre. “Estávamos há mais de dois anos sem um eclipse lunar total visível da Europa e, mesmo não sendo totalmente visível da Espanha, o final do fenômeno poderá ser observado”, diz Miquel Serra. Ou seja, a primeira etapa da penumbra não poderá ser vista na Espanha, com exceção das Ilhas Baleares, que serão as mais favorecidas. As outras fases poderão ser vistas no país e nas Ilhas Canárias, mesmo que a elevação do satélite fique muito baixa. Por isso, Antonio Pérez recomenda que seja observado de lugares que mostrem o horizonte livre, e diz que mesmo sendo visível a olho nu, “binóculos e telescópios podem ajudar a notar certar formas”.

O fenômeno quase coincidirá com a noite mais brilhante do planeta vermelho nos últimos anos, que será a de 28 de julho. “São questões orbitais de Marte que não têm relação com o eclipse lunar”, frisa Antonio Pérez, “mas os dois fenômenos darão ao próximo fim de semana um grande interesse astronômico”, afirma.





 

Fonte: Irene Mollá - El País Brasil
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